Autora de “Manda mensagem qd chegares” fala de direitos que “começam a ser encurralados”
Lisboa, 26 set 2025 (Lusa) – A autora portuguesa RGB, que faz a estreia literária com o livro ilustrado “Manda mensagem qd chegares”, alerta para a possibilidade de “tempos sombrios”, de ataque a direitos fundamentais, incluindo os que dizem respeito a identidade de género.
“Manda mensagem qd chegares”, escrito e desenhado por RGB, que acaba de ser publicado, descreve situações, episódios e momentos verídicos, uns mais banais outros mais chocantes, vividos pela autora ou por mulheres amigas.
São descritos abusos físicos e morais, de cariz sexual, são enumerados medos, situações assumidas como de risco, preocupações diárias das mulheres sobre como se comportarem em público: não perder de vista uma bebida num bar, passear sozinha numa praia deserta, subir umas escadas com uma minissaia vestida, dar a mão a outra mulher.
“Eu consigo fazer uma enciclopédia, isto é infinito, não acaba, é diário, transversal, intergeracional, pode pertencer a vários países, há muitas pessoas no mundo que se vão identificar com os desenhos”, contou a autora à agência Lusa.
O título alude a uma frase recorrente de preocupação e de segurança, dita ou escrita por muitas mulheres e dirigida a alguém no regresso a casa ou a algum local, a horas tardias: “Manda mensagem quando chegares”.
“Comecei esta sequência sobre andar na rua e ser mulher, sobre ocupar esse espaço, sobre estas coisas do dia-a-dia, que normalizamos. Como mulher basta sair à rua para ser protagonista de um dos episódios que estão no livro. Já temos um comportamento preventivo. Não ir por ali, ignorar, sabemos a que é que as nossas ações podem levar”, contou.
Os desenhos escolhidos são representativos de várias histórias. “Sempre que falava sobre o livro foi-me sempre devolvida outra história.
Eu incluí algumas que me contaram. A maioria são minhas e de amigas ou de pessoas conhecidas. São histórias que achei atrozes”.
A autora trabalha na área do cinema, tem 43 anos, tem filhos e prefere assinar com um nome artístico para que o livro exista por si só, porque interessa mais do que a sua autora, explicou.
O livro, publicado pela editora Iguana, foi desenhado em digital, num ‘tablet’, ao longo de várias madrugadas “graças à insónia permanente da maternidade”.
RGB diz que não é virtuosa a desenhar, o que não a impede de tentar evoluir: “Gosto de fazer banda desenhada, mas não num formato tradicional. Gostava de fazer um livro sobre maternidade, sobre o papel das mulheres no cinema, que me interessa, mas não tenho qualquer plano para já”.
Para a artista, continua ser preciso falar das questões de género, de violência de género, de direitos laborais, porque lhe parece que “vêm aí tempos sombrios”.
“Sinto que vai regredir, vamos atravessar uma fase difícil e depois temos de reconstruir. O melhor que temos a fazer é lutar. É muito difícil quando os direitos fundamentais começam a ser encurralados”, lamentou.
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Se é vítima de violência de género ou conhece alguém que o seja ou corra o risco de o ser, pode contactar a linha nacional de apoio 800 202 148 ou enviar sms para 3060. O serviço de informação, gratuito, anónimo e confidencial, funciona 24 horas por dia. Peça apoio. Denuncie.
Fonte: LUSA