Literatura infantil é “espaço potente” para falar de mutilação genital – escritora (C/ÁUDIO)
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Lisboa, 24 out 2025 (Lusa) – A escritora Kátia Casimiro escreveu um livro sobre mutilação genital feminina (MGF) dirigido ao público mais jovem, por considerar o tema ainda “muito silenciado”, sendo a literatura infantil “um espaço potente” para abrir a conversa.
Reconhecendo que “é um tema difícil”, a escritora de origem guineense sublinha que “a ideia não é chocar, mas abrir um espaço para a escuta, para a empatia e para a conscientização”.
Através de imagens e metáforas, “Debaixo das saias” – que será apresentado no sábado, às 16:00, na Ludoteca do Jardim Infantil de Queluz, no concelho de Sintra – “é um livro simbólico, sensível”, que respeita “profundamente a infância”, assinala.
O livro resulta “daquilo que é coberto, oculto, silenciado” e que Kátia Casimiro traz à tona com “amor e verdade”.
Se o tema causar desconforto será um bom sinal. “O desconforto é o começo de uma escuta nova, mostra que estamos diante de algo que precisa de ser visto”, nota a autora de várias obras dirigidas ao público infanto-juvenil.
“O tema do livro é pesado, mas o livro não. O livro não é invasivo, tão pouco agressivo”, garante, assumindo que sentiu a “responsabilidade” de escrever sobre o assunto por ser natural da GuinéBissau, país de língua oficial portuguesa onde muitas meninas ainda são sujeitas a práticas tradicionais nefastas como é o caso da MGF.
“É um tema real, afeta milhões de meninas no mundo e muitas meninas da mesma idade daquelas crianças para quem eu escrevo”, recorda, apontando que a MGF “quase nunca entra nas rodas de conversa, muito menos nas rodas de leitura”.
Para a escritora, “a literatura pode ser uma ponte para tratar assuntos difíceis”.
“A mutilação genital feminina ainda é um tema cercado de silêncio, de tabu e desinformação”, reconhece a autora, assumindo que com o livro pretende “ajudar adultos, pais, mães, educadores a abrirem um diálogo” sobre o tema.
“Eu sei que é difícil, mas é necessário”, defende, considerando que “a infância não pode ser um lugar de dor escondida”.
Com este livro, diz, tem a esperança que “cada menina entenda também que o corpo é só dela e cada adulto entenda que proteger a infância começa por falar e não por calar”.
A mutilação genital feminina consiste na retirada total ou parcial de partes genitais, com consequências físicas, psicológicas e sexuais graves, podendo até causar a morte.
Cerca de 200 milhões de meninas já foram submetidas à MGF, enraizada em cerca de 30 países africanos, e outras 60 milhões estão em risco até 2030, data que as Nações Unidas fixaram para o objetivo de erradicar a prática.
Estima-se que vivam na Europa cerca de 500 mil mulheres mutiladas e em Portugal cerca de sete mil, na maioria originárias da Guiné-Bissau.
A Guiné-Bissau – onde a MGF é punida por lei desde 2011 – é o único país de língua portuguesa que figura nas listas internacionais sobre a prática, com uma taxa de prevalência que afeta metade das mulheres.
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Fonte: LUSA



















