25 de abril - o que mudou
25 de abril - o que mudou
Engénia, Nuno & Paulo
ROSA E ANA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Eu já era casada e trabalhava, mas trabalhava desde criança. Vínhamos de uma família pobre e tinha de ser, todos tinham de trabalhar e não podíamos reclamar por uma vida melhor. Havia o medo no ar.

Quando o 25 de Abril chegou fui para Lagos apoiar os soldados, era a esperança de dias melhores a chegar. Fiquei tão feliz, foi tão bom. .

 O que mudou na vida da minha filha?

Mudou tudo. Sempre mostramos a ti e ao teu irmão o antes e o depois. Conheceram as musicas, os poemas, o que era viver sem liberdade e o que vocês agora poderiam ter e escolher.

Os meus pais, eu e os meus irmãos tínhamos de trabalhar, não nos sentimos explorados mas não havia outra hipótese.

Vocês puderam estudar, decidir o que queriam ser. Foi o melhor que vos pude oferecer, a escolha.

Agora cada um à sua maneira, lutam por uma vida melhor, tu pelos direitos humanos.
Podem sonhar a ser o que quiserem e isso não tem preço.

 

Engénia, Nuno & Paulo
JOSÉ, JORGE E JOANA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Mudou-se de um regime que era de ditadura para um regime que era democrata e tudo isso arrasta um comportamento diário. Porque na ditadura tu não podias abrir a boca desde que fosses contra o regime e na democracia tens liberdade de expressão, as pessoas podem dizer aquilo que pensam, têm mais liberdade em se movimentar e a fazer aquilo que querem. Para mim, ainda mudou outra coisa, é que o dia dos meus anos, como é a 25 de abril, passou a ser um feriado.

A politização através da Mocidade portuguesa era um catecismo não só para homens como para mulheres. Eu quando aos 10 anos de idade entrei para o liceu já sabia que às quartas-feiras da parte da tarde tinha de ir para a “politização”.

Havia 50 anos que se vivia em ditadura e a ditadura vive do medo que incute numa sociedade, e portanto todos nós tínhamos medo, vivíamos sob o medo… Não era respeito, era medo!

Não tínhamos acesso ao que acontecia noutros países, o Salazar defendia que “estávamos orgulhosamente sós”, o que é uma limitação mental tremenda e inqualificável. Já vês, quando um governante tinha este espírito do “quero, posso e mando”, sempre que alguém se insurgia, o gajo atacava à bruta.

 

 E o que mudou na minha vida?

Na tua vida mudou tudo… embora nós não fossemos políticos ativos, porque se fossemos a tua vida era mais difícil e tinhas tido a tua família perseguida, mas felizmente já não viveste as atrocidades de outrora, já cresceste num meio que não havia medo de represálias… já pudeste ser livre para agir e para pensar.

 

ESPERANÇA CHARNEÇA
MIMI CARLA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Nesse dia, há 48 anos, eu estava em Nampula/Moçambique, a essa altura colónia portuguesa.

Lembro-me que estava a trabalhar na empresa, no escritório e alguém entrou e disse – Está a haver um golpe de Estado em Portugal. Lembro-me que respondi sem entusiasmo – Sim, mais uma intentona, como a das Caldas.

Não havia televisão, mas depois, em casa pela rádio a notícia foi confirmada.

Lembro-me hoje, sobretudo e com alguma tristeza, que não houve, nem a mim, nem à minha volta, nem alvoroço nem alegria.

Em Nampula, nós brancos tínhamos adormecido à sombra da bananeira e vivíamos cantando e rindo.

Salvo raríssimas exceções eramos todos apolíticos. Seja lá o que isso for.

Só passados alguns dias tomei consciência do que se estava a passar em Portugal, e aí sim, comecei com alguns amigos a formar um grupo de discussão.

Vivi a partir daí um período maravilhoso, que culminou, no dia 25 de Setembro de 1975, com a declaração de independência de Moçambique e respetivas cerimónias em que participei com alegria, vendo nascer um novo país, onde tinha nascido, trabalhado, casado e tido dois filhos.

Cheguei a Portugal em Julho de 1976. Não foi fácil, mas deu para criar e educar 2 filhos, que tiveram que, como todos os outros jovens como eles, trabalhar e muito, para serem o que hoje são.

Para mim esse foi um dos benefícios do 25 de Abril. Em Moçambique, não teria sido preciso tanto. Bastava serem brancos e filhos do gerente do Banco, para terem o futuro quase garantido.

 

 

 

ASCENSÃO E SANDRA
MARIA FERNANDA E MARGARIDA

O que é que o 25 de Abril mudou nas nossas vidas?

APÓS O 25 DE ABRIL 1974 e ao longo dos anos, várias alterações foram surgindo, impossíveis de mencionar, mas há algumas que foram muito importantes para mim.

A Liberdade só por si trouxe-me nesse dia uma enorme alegria, passando-o em manifestações de rua, falando à esquerda e à direita sem pensar na

PIDE. Estive no “Largo do Carmo” onde grande quantidade de pessoas se manifestavam e expandiam a sua alegria. Já à noite, na acalmia de casa, pensei “e se isto amanhã vira?”, mas sosseguei quando concluí que fosse o que fosse, já tinha vivido 24 horas de liberdade e que só isso valia a pena.

No 1 º de maio 1974, foi o máximo nas ruas, nos bairros de Lisboa e em todo o país.

Festejei esse dia no estádio “1º de Maio”, indo a pé até lá. Alguns quilómetros que me valeram um pé amachucado. Embora o recinto não fosse grande estava cheio e a alegria era enorme, sendo uma surpresa a comunicação entre pessoas e as palavras
simpáticas de todos para todos.

Outro aspeto de relevância para mim foi ter a possibilidade de poder passar a fronteira portuguesa para férias ou outro motivo, levando a minha filha menor de idade, sem ter um documento de autorização escrito e reconhecido do pai.

Esta autorização aplicava-se sempre que o pai não acompanhasse a criança; note-se bem, que o inverso já não era necessário.

Na empresa onde trabalhei muitos anos, as condições eram razoáveis, mas, logo na 1ª semana após o 25 de Abril, criou-se uma

“comissão se trabalhadores” que prosseguiu sempre, da qual fiz parte, que negociava com o patronato, condições de trabalho, salários ou outros aspetos; no fundo tudo o que beneficiasse o trabalhador sem prejuízo para a empresa. Fomos bem-sucedidos, tivemos sorte!!!

Na altura a minha filha tinha 6 anos de idade e toda a sua vida decorreu com as condições de liberdade existentes, sem nunca sofrer represálias.

Durante a sua vida académica e depois profissional sempre a incitei à liberdade verbal e escrita, era a tónica em nossa casa.

No entanto, não seria necessário pois a sua índole assim o ditava.

VIVA O NOSSO 25 DE ABRIL 1974

 

Engénia, Nuno & Paulo
JÜRGEN, HELENA, FRANCISCO E PEDRO

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

A minha mulher, eu, e o meu filho mais velho chegamos a Portugal 7 meses antes do 25 de Abril. Pudemos por isso viver e participar no apaixonante processo do nascimento de uma nova ordem política que influenciou a situação laboral, cultural, económica, social e de relação com as antigas colónias.

Também a nível familiar ficamos mais ricos, pois nasceu o nosso segundo filho dois meses depois do 25 de Abril. Posso dizer que a minha vivência pessoal e profissional também foram beneficiadas.

 

O que mudou na vida dos meus filhos?

Por vezes penso que dão menos valor do que deveriam às conquistas resultantes do 25 de Abril. Ter eleições, falar sem ter que ter receio de ser denunciado por expressar opiniões diferentes, ter garantias plasmadas numa constituição, são para eles dados adquiridos, mas merecem atenção permanente.  

 

MANUELA E ANTÓNIO
ARTUR, ISABEL, NUNO E INÊS

O que é que o 25 de Abril mudou nas nossas vidas?

A liberdade é um dos bens mais preciosos que podemos ter.

Tendo passado os primeiros anos da minha vida antes do 25 de Abril , vivi a revolução com grande alegria e com a perspetiva que os meus filhos pudessem viver numa sociedade livre.

É indiscutível que Portugal mudou, para melhor, e as novas gerações puderam crescer em liberdade.

Por isso não perco uma oportunidade para lhes relembrar que valorizem , usufruam e defendam o nosso modelo de sociedade.

Foi um privilégio participar na educação dos meus filhos numa sociedade onde somos ouvidos e respeitados ,sendo que metade do mundo sobre(vive) a uma só opinião

 

LÚCILA E MARTA
LUÍSA, JORGE E JOANA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Liberdade e democracia é só isto que é tudo.
A liberdade das pessoas, particularmente das Mulheres, foi o mais importante: eu era mãe, estudante universitária e casada e quando estive em Pinhel a fazer o serviço médico à periferia, para ir a Espanha comprar uns caramelos contigo, precisava de um documento de autorização do teu pai, mas ele não precisava de nenhum meu se quisesse lá ir porque ele é que era o chamado “chefe da família”. A liberdade foi essencialmente para as Mulheres, na sua autonomia. As pessoas casadas pela igreja não se podiam divorciar, por exemplo… e quando se separavam eram muito mal vistas pela sociedade.

Mas foi também importante porque me permitiu, pela primeira vez, aos 25 anos de idade, votar… Um ato tão simples como esse e que para mim foi tão marcante…

Naquele dia existiu uma verdadeira união entre as pessoas, de todas aquelas que se juntaram e insurgiram contra a vida difícil do tempo da ditadura: não podíamos estar na rua mais do que 2 pessoas porque senão era um ajuntamento… um atentado contra o regime.
Das poucas coisas, giras durante aquele tempo era infringir as regras, obter impressões clandestinas (como aquele livro do Zeca Afonso “Cantar de novo” que consegui), participar de tertúlias à meia luz… por exemplo participámos do assalto à mocidade portuguesa que estava instalada na parte de baixo do hospital de Santa Maria e, como a polícia de choque não podia entrar dentro dos hospitais nós acoitávamo-nos lá dentro, naquelas armações da ortopedia, com as pernas dos doentes, fugidos da polícia…
É isso o 25 de Abril, foi para mim, essencialmente, liberdade e democracia.

E que o 25 de Abril mudou na minha vida?

Tudo, e sem teres consciência disso, porque só com a vida livre e democrática que os teus pais tiveram é que foi possível dar-te um tipo de educação dentro dessa linha, porque senão tu tinhas aprendido a não abrir a boca, a não falar, a não dar opinião, a não referir o que quer que fosse. Pudeste brincar com quem querias, pudeste dizer as coisas que querias…e quando nós éramos crianças isso não era possível
nem por isso. Havia uma grande segregação social com indivíduos de raça e de etnia diferente. Ainda hoje há ecos dessas coisas, portanto imagina naquele tempo. Era terrível.

 

ESPERANÇA CHARNEÇA
CARLOS E FÁTIMA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

O 25 de abril trouxe-nos muita alegria.

Deu-nos a Liberdade, acabando com a censura e como tal veio a liberdade na imprensa, nos espetáculos, como o cinema e o teatro.

Além disso também melhorou o nosso nível de vida, e a relação no trabalho com os nossos dirigentes.

Trouxe-nos mais tarde a nova Constituição da República Portuguesa, e com ela os nossos direitos como cidadãos e a igualdade entre todos os portugueses.

E mais ainda, e primordial, acabou com as guerras em África, onde morreram milhares de portugueses. Portugal ficou mais “pequenino”, mas mais “bonito”.

Viva o 25 de Abril!

 

O que mudou na minha vida?

O 25 de abril, para além da implantação da democracia, com a Nova Constituição Portuguesa, trouxe para as mulheres a igualdade como seres humanos.

Passaram a ter acesso livremente às Universidades, na política a lugares no Governo, na Assembleia da República, e a lugares de chefia nas grandes empresas, universidades e hospitais. E na sociedade civil encontrou um ambiente mais aberto.

Nas escolas as crianças e adolescentes passaram a estudar juntos, sem discriminação de sexo.

O 25 de abril trouxe a igualdade entre mulheres e homens.

 

ASCENSÃO E SANDRA
MARIA ALCIDA, EDUARDO E ALCIDA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Atualmente não posso perguntar à minha mãe nem ao meu pai o que lhes mudou na vida. Mas pelo que vi e assisti, nessa altura, ela e ele tinham ido para o Reino Unido tentar uma melhor vida porque lá na Ilha não estava fácil. Mas sim a minha mãe era quem fazia tudo não tinha direito a se manifestar, até ir para o estrangeiro foi quase uma obrigação, porque tinha de ir ajudar o marido. Isto porque o marido não podia lavar/passar a roupa, fazer as refeições, e sim a esposa teria de estar perto, para colocar tudo à beira do marido, desde uma simples meias, junto da roupa toda ordenada para ele vestir. Para que isso acontece a minha avó também quase que obrigada deixou de trabalhar para cuidar dos 2 netos e 1 neta (com 4 meses – eu) que ficariam para trás.

Mas sim mudou com o 25 de Abril apenas a parte que para ir buscar as “coisas” à rua já não havia horários, não havia policiamento a verificar quem andava na rua. Podíamos todos e todas ir à escola, todos na mesma sem haver separação de meninos e meninas, já se podia ir ao cinema, conviver com os/as amigos/as, mas de preferência apenas amigas.  Mas a parte da Mulher/Esposa não mudou muito na minha família, a mulher a fazer as tarefas e “obedecer” ao patriarca da casa.

 Mas tenho o orgulho da minha mãe pois ela mesmo com estas restrições, era/foi uma mulher com outra visão, pois era de opinião que tanto eu e os meus irmãos deviam ser tratados por igual (penso que foi do facto de ter vivido no estrangeiro). Que deu liberdade de escolha, independente da opinião do marido.

O que mudou na minha vida?

Eu, no 25 de Abril de 1974, na minha ainda pacata Ilha, dia normal, com aulas e depois foi nos dito para irmos para casa, porque algo se passava, que fossemos, direitinhos/as para casa e que não falássemos com ninguém.

 Com 8 aninhos, para minha felicidade era tudo normal (feliz por ir mais cedo para casa), a minha escola já era mista, ia a pé, sim porque a minha avó, (quem nos criou, uma boa mulher e que tudo fazia para sermos felizes e colmatar a ausência da mãe e do pai), ensinava o caminho para a escola apenas no 1º dia de aulas. Também uma mulher forte que passou por 2 guerras mundiais e por uma viuvez muito nova e que por ser mulher não teve direito aos bens do marido, porque o negócio era familiar e ficou tudo com os cunhados. E era assim, lá na Ilha, pelo menos para mim, não tivemos aquelas manifestações daqui do “Contenente” (hihi), e a vida correu normal.

Mas sim é de louvar esta revolução porque assim se iniciou a caminhada para a Igualdade, mas que ainda 48 anos depois ainda não é a Igualdade Plena.

ASCENSÃO E SANDRA
ASCENSÃO E SANDRA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Deu-me mais autonomia. Antes as mulheres eram mais submissas. Tinham que ser, não é? Dependiam obrigatoriamente dos maridos para tudo. Eram obrigadas a depender. Mas a partir daí puderam ter liberdade para fazer tudo o que quisessem. Era uma época difícil. A PIDE andava sempre de olho, e nós sempre com medo que nos estivessem a vigiar.

O que mudou na minha vida?

Na tua vida mudou tudo!! Aumentou as tuas possibilidades de desenvolvimento a nível social, a nível escolar…mudou tudo Sandra! Ia ter sido muito difícil teres feito o caminho que fizeste antes do 25 de abril…ui era impossível! Não podias ter estudado até onde estudaste vindo de uma família modesta, nunca poderias ter viajado como fizeste… bom e politicamente ias ter muitos, mas muitos problemas. Feministas e Estado novo não era uma combinação admissível.

Engénia, Nuno & Paulo
JOSÉ E CATARINA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Na véspera do 25 de abril de 1974, eu era um pequeno jovem que frequentava o liceu com alguma consciência política, fruto do relacionamento com uma família amiga com profundos valores antifascistas. Por outro lado, com o meu irmão em Timor, começava a crescer em mim a ansiedade resultante de uma futura ida para a Guerra Colonial, que considerava profundamente injusta e cruel.

O 25 de abril foi, por isso, um dia muito feliz, uma janela para a liberdade, quer individual, quer coletiva: o direito à participação democrática e ao exercício da governação, a possibilidade de fazer escolhas, a afirmação das mulheres, uma melhor distribuição da riqueza gerada e, não menos importante, o acesso à educação e à cultura, para um grande número de cidadãos e cidadãs.

 

O que mudou na vida da minha filha?

Com a afirmação da democracia e da liberdade e uma melhor distribuição da riqueza gerada (embora com algumas injustiças), penso que para a minha filha e a sua geração o 25 de abril passou a representar uma luta mais concreta por valores como a afirmação pessoal, a igualdade entre sexo e raças e a questão climática.

 

ESPERANÇA CHARNEÇA
ARMANDO, ANA MARIA, ANABELA E LUÍS

O que é que o 25 de Abril mudou nas vossas  vidas e na minha vida?

Somos de um tempo em que as mulheres tinham a seu cargo o governo da casa, que se traduzia nas lides domésticas como obrigação e os homens eram os pais/chefes de família.

Foram tempos duros e com pouca consciência política, dadas as imposições do fascismo e por isso depositámos toda nossa esperança na revolução iniciada a 25 de abril de 1974.

Na altura já éramos pais de uma rapariga de 8 anos (Anabela) e de um rapaz de 2 anos (Luís).

Recordamos o dia 25 de abril de 1974, com muita alegria, com medo, mas com a convicção de que seria o início de boas e prazerosas mudanças na vida de mulheres e homens.

Os foram dias conturbados, mas a esperança e a mudança eram o nosso foco.

Hoje sabemos que os frutos daquela revolução, permitiram uma vida diferente aos nossos filhos e que a nossa vida enquanto casal é de mais companheirismo, uma vez que aprendemos a repartir tarefas domésticas e a viver com responsabilidades e direitos partilhados.

 

 

Engénia, Nuno & Paulo
EUGÉNIA, NUNO E PAULO

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Na minha vida propriamente dita não mudou nada. A vida que tinha continuei a ter, ter de limpar a casa, lavar roupa, ter de tratar dos filhos e educar os filhos, ter o comer na mesa a horas para o teu pai. Não mudou nem para mim nem para as mulheres que trabalhavam em casa, ninguém se lembrava de nós e ninguém se lembra ainda hoje. Mas para as pessoas em geral mudou a liberdade. Não havia. Não podíamos estar num grupo de pessoas na rua, não se podia falar alto certas coisas, andava sempre os disfarçados da PIDE à espreita. Tinha de se medir as palavras. Havia medo. As pessoas perderam o medo.

O que mudou na minha vida?

Olha no tempo do Salazar não podias ser aquilo que és. Hoje podem tratar-te com preconceito e até chamar-te nomes, porque ainda é difícil, mas naquela altura o mais certo era fazerem-te a vida negra por seres assim. Ainda ias preso e faziam-te mal.

Olha, também isso de dizeres às pessoas tudo o que pensas estejas onde estiveres e de não te importares se é chefe ou não, se é rico ou pobre. Estavas tramado, arranjavas um 31. Não sei se se pode dizer isto, mas levas a liberdade de pensamento e de expressão muito a sério. O teu pai dizia “tenho muito medo por este miúdo, não se cala a ninguém”. Não podias ser assim na ditadura. Ias preso.

ESPERANÇA CHARNEÇA
ESPERANÇA CHARNEÇA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

Nasci no Alentejo, Freguesia de Boa-Fé, Concelho de Évora.

Filha mais nova de uma prole de 8 irmãos, conheci a dureza da vida do campo – isolamento, percursos de 3h para ir e vir da escola, a pé… Na altura achava que a vida era assim, uns nasciam ricos, outros pobres e, com muito trabalho, poder-se-ia aspirar a ser remediado. Os irmãos mais velhos, os homens, cuidariam de mim e da minha irmã, por sermos raparigas… E assim foi… seriam eles a libertar-nos daquele lugar que amávamos, mas, que muito cedo percebemos teríamos de abandonar porque, por mais que trabalhássemos, nunca sairíamos da “cepa torta”.

Não fui servir, profissão muito em voga na época, fui trabalhar para Lisboa para o estabelecimento de um irmão mais velho, fiquei na Visconde Valbom e já era uma rainha, embora pobre. Depois casei e tive um filho e uma filha e fui viver para Setúbal. Terra de gente que pensava que a vida não podia ser tão madrasta para alguns…. Convivi com alguns membros do Partido Comunista, da oposição e da conspiração, mas tinha dois filhos e não fui muito atrevida, mas percebi que havia muito mais mundo e, timidamente, até ajudei os mais corajosos, fiquei de esquerda, como ainda se diz.

Tudo mudou naquela manhã, respirava-se a esperança da Liberdade. O primeiro 1º de maio, foi, de facto, o mais emocionante. Todos unidos, sem divisões. Lembro-me de ouvir os passos marcados de quem vinha de Palmela, das lágrimas, da emoção. Tudo na rua a celebrar.

Os salários melhoraram, o medo da guerra colonial que angustiava as mães desapareceu, a vida podia ser outra coisa e muito melhor. Sempre fui muito independente e pouco submissa, mas as outras mulheres também me importavam e saber que todas podíamos ser independentes era uma grande alegria.

O resto da história todos conhecemos, demorou tempo, mas por muito que refilemos Portugal mudou muito e muito depressa…

Vale a pena celebrar sempre o 25 de Abril e não esquecer.

O que mudou na minha vida?

Para ti filha, moldou a tua vida…

Pudeste estudar e ir para a Universidade, pudeste participar em Associações de Estudantes, em Juventudes partidárias, pudeste crescer a falar, a ouvir, a gritar nas ruas por aquilo que acreditavas, mesmo que nem sempre fosse o mais correto, mas eram os tempos…

És uma mulher forte e com força e isso deu-te abril, és uma mulher determinada e com sucesso e isso deste a ti própria com muito trabalho…

Sim, porque sempre adoraste trabalhar mesmo com prejuízo para a família e não sei quando vais parar ou se queres parar…

Por muito que te aconselhe farás sempre o que queres e isso são os meus genes, fui eu que te dei.

VIVA O 25 DE ABRIL E TODAS AS MÃES E FILHAS CORAGEM!

TERESA MARTA E RITA
TERESA MARTA E RITA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

O 25 de Abril foi uma enorme alegria, uma lufada de Esperança num país com Liberdade e com menos desigualdades. No concreto, a minha vida não teve grandes mudanças: no meu trabalho e na vida de família houve uma grande continuidade, mas acompanhei pessoas que sofreram grandes alterações do seu dia-a-dia, algumas bastante difíceis pelas inevitáveis turbulências das revoluções (mesmo das mais pacíficas)

O que mudou na minha vida?

Na tua vida, mudou a perspectiva de viver num país finalmente a abrir se ao mundo, com horizontes mais largos na partilha das experiências de vida, na cultura, na educação, no pensamento. No imediato o ensino sofreu o entusiasmo de sucessivas remodelações que me obrigaram a uma maior atenção, pois acontecia alguma desorientação na aplicação dos currículos. Reconheço que o alargamento do acesso à educação foi uma conquista importantíssima que beneficiou muitas famílias, embora no teu caso não alterasse as expectativas familiares. Lembro-me da tua alegria a cantares cantigas de protesto, mas já antes do 25 de Abril te tínhamos ensinado muitas dessas cantigas que contávamos em conjunto…

MANUELA E ANTÓNIO
MANUELA E ANTÓNIO

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

A maior conquista foi a liberdade, principalmente a liberdade de se poder falar sem medo de que alguém estivesse à escuta para informar a PIDE.

O que mudou na minha vida?

Para as gerações futuras a maior conquista foi a possibilidade de toda a gente ter oportunidade para estudar e também fiquei feliz por não teres de ir para a guerra.

LÚCILA E MARTA
LÚCILA E MARTA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

O 25 de Abril mudou tudo na minha vida. Até aos 18 anos cresci e vivi numa pequena cidade do interior, onde as coisas corriam, sem que eu me apercebesse bem do que estava errado. Por exemplo, sempre andei em escolas em que os meninos estavam separados das meninas, quer nas aulas, quer nos recreios. Já na escola secundária, o diretor falava constantemente ao altifalante que os/as alunas/os só se podiam encontrar a mais de 100 metros da escola, as meninas deveriam usar as batas 10 cms abaixo do joelho (claro que algumas, em gesto de protesto, descosiam as bainhas e andavam assim com elas soltas). Os rapazes sempre tiveram educação física, para quando chegassem à idade da tropa estarem bem preparados para irem para a guerra colonial. As meninas nas aulas extracurriculares eram preparadas para serem boas donas de casa, ou seja, tinham culinária, enfeitavam jarras, ensinavam como se devia passar a ferro, e em relação a educação física, embora existisse nos horários, passava todo o ano e nunca aparecia professor ou professora. Tive ainda um professor de Contabilidade, que nos pedidos para assinarem os nossos livros de autógrafos escreveu “ Deus, Pátria e Família, eis a trindade a que deves condicionar a tua vida”. Mais tarde vim a perceber que tinha ligações à polícia política.

Aos 18 anos vim para Lisboa trabalhar para a Central Telegráfica, pertencente aos CTT, onde comecei a ter conhecimentos com pessoas que me despertaram para a política. Comecei a ler poemas de livros que me emprestavam e um amigo ofereceu-me no aniversário, um do ZECA, que ainda guardo. Em 1973, já participei nos comícios do MDP/CDE, que se opunha dentro do possível, ao poder instituído. Lembro-me perfeitamente dum comício na Amadora, em que tivemos que fugir à frente dos cavalos da polícia.

25 de Abril uma festa e o acreditar que tudo iria mudar. Não fui para a rua, porque a minha filha tinha 20 dias, mas fui ao 1º de Maio deixando-a ao cuidado de minha mãe. O 25 de Abril só por si, não operou todas as mudanças que queríamos, mas permitiu, que através da luta, tudo mudasse. Nesta altura já a trabalhar na CGD, onde por sermos banco público, não tínhamos direito à sindicalização, quando todos os outros bancários já tinham esse direito, conseguimos o direito à sindicalização. As mulheres com as mesmas habilitações, que os homens, entravam sempre como datilógrafas, eles para a carreira de escrita. Elas só ao fim de alguns anos como datilógrafas podiam concorrer aos mesmos cargos que os homens tinham logo de entrada. Com o 25 de Abril, isto foi uma das mudanças na Empresa, quase de imediato. Eu, pessoalmente, consegui ser membro de Direção de uma coletividade, delegada sindical, membro da Comissão de Trabalhadores da CGD e depois sócia fundadora do Sindicato do Grupo Caixa, tendo de imediato pertencido à sua Direção.

Quando a minha filha nasceu, as mães apenas tinham direito a 30 dias, por maternidade, o que aconteceu comigo, pois ainda não tinha passado tempo suficiente para mudar a lei, no entanto em pouco tempo, esta foi melhorando, bem como os salários.

GRAÇA E RITA
GRAÇA E RITA

O que é que o 25 de Abril mudou na tua vida?

O dia 25 de Abril de 1974, para mim foi algo de misterioso, pois já estava a trabalhar na função pública e habituada a não poder revelar quanto eu ansiava pela conquista do espaço social e político da condição de ser mulher. Foi misterioso porque esse dia trouxe-me algum medo (os maus andam à solta) e ao mesmo tempo uma alegria sem par. Será que vamos mesmo ser livres?

As notícias e os dias seguintes confirmaram a minha alegria. Estava livre para a minha luta pelo serviço nacional de saúde, pela desigualdade salarial entre homens e mulheres e muito mais. Eis que surge no meu caminho Maria de Lourdes Pintassilgo.

Com ela, aprendi tanto e dei tanto de mim aos outros que não mais me faltou a coragem no meu poder de decisão. Antes do 25 de Abril já era mãe de um rapaz de dois anitos, e a vivência da altura era a que descrevi.

O que mudou na minha vida?

Na tua vida filha já muita coisa tinha mudado pois nasceste em 1977, e aí sim todos os meus valores já estavam consolidados e, ainda na minha barriga, já me acompanhavas a ensinar mulheres bem adultas a ler e a escrever e a sair da opressão. Tudo isto gratuitamente e em horário pós-laboral. A mudança já nasceu contigo, e ao longo destes anos orgulho-me do bom trabalho que fiz, pois, a minha filha, a minha mulher, é o prolongamento deste trabalho na vivência do seu dia a dia.

Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género - CIG